segunda-feira, 29 de junho de 2009

Ver-te-ei no Inferno (!), de Martin Ritt




O Realizador
Este cineasta americano, filho de imigrantes russos, foi perseguido pelo famigerado maccarthysmo. Acusado de ter ligações com o partido comunista, por causa de sua predileçaõ por temas sociais, Martin Ritt foi perseguido junto com tantos outros artistas durante a paranóia anti-comunista que tomou conta da terra do tio Sam, nos anos da Guerra Fria. Esse episódio, inclusive, serviu como inspiração para o ótimo filme “The Front,” com Woody Allen que Martin Ritt dirigiria posteriormente. Boa parte da obra cinematografica deste diretor, tem como base as questões sociais; racismo e a brutal condição dos trabalhadores como é o caso de “The Molly Maguires”, são preocupaçes presentes na obra deste realizdor que inicou sua carreira ainda na década de trinta. Ritt ainda foi responsável por um dos melhores filmes de espionagem dos anos sessenta, “The Spy Who Came in From the Cold”, com Richard Burton e dirigiu Paul Newman em uma de suas melhores performaces, no western humanista “Hombre”.
Foi também professor na famosa escola Actors Studio de onde sairam, além de Paul Newman, Brando e James Dean. Sua estréia na direção se deu com o filme "Um Homem de Trêsmetro de Altura," com John Cassavetes em 1956. Mas o reconhecimento mundial só chegaria mais tarde, mas precisamente em 79, com o filme "Norma Rae", premiado em Cannes.

O Filme
“Ver-te-ei no Inferno” (nome infeliz!), realizado em 70, conta a historia de mineradores de carvão do Estado da Pennsylvania, que se rebelam contra as miseráveis e brutais condições de trabalhos imposta pela impresa em que trabalham; cançados de serem explorados, resolvem, através de uma organização secreta, os Molly Maguire, cometer atos terroritas contra a mineradora.


Na trama, um investigador (Richard Harris, ambíguo até o sso) é chamado ao local com a missão de se infiltrar e delatar os membros dessa organisação secreta que é liderada por um mineiro chamado Jack Kehoe (Seam Connery, ótimo). Embora desconfiados das reais intenções do novato, James McParlan (Harris), os Molly Maguaris o aceitam como membro do grupo e logo, MacPalan estará envolvido em atentados terroristas contra a mineradora. Atraido por uma joven da localidade (Samantha Eggar) e dividido entre a admiração por Jack Kehoe e sua missaõ, MacPalan se verá em um dilema moral onde sua consciência será severamente testada.
Martin Ritt constroi um excelente drama politico com contornos subversivos, onde além da ótima historia, o destaque fica por conta do duelo interpretativo entre os grandes Richard Harris e Sean Cinnery. Filmaço!

sábado, 27 de junho de 2009

Sam Peckinpah, a prostituta.


Após o amigo Gustavo ter postado em seu blog “Polimorfismo Perverso” um artigo de minha autoria sobre o filme “Tragam-me a cabeça de Alfredo Garcia”, de Sam Peckinpah, senti-me na obrigação de fornecer algo com mais substancia e elaboração. Embora não seja jornalista ou qualquer coisa parecida, me meto a escrever coisas sobre filmes que gosto e uso esse instrumento, o blog, informalmente e sem a menor pretensão de construir textos elaborados ou didáticos. Exponho minhas impressões de forma claudicante e irresponsável sobre os filmes que vi durante a semana, tendo apenas o compromisso de uma certa regularidade na postagem de novos textos.
Sam Peckinpah é um realizador ianque que surge naqueles inacreditáveis e maravilhosos anos sessenta, onde Hollywood estava aberta as influências européias e tinha ainda gente que gostava de cinema no comando dos estúdios, possibilitando a realização de obras transgressoras e inovadoras para os padrões da época. Junto com Peckinpah temos Arthur Penn, Frankenheimer e outros que fizeram parte da chamada nouvelle vague do cinema americano, onde a arte tinha mais valor que a grana. Nesse contexto, temos um dos meus diretores preferidos, que já foi chamado por um certo critico de cinema brasileiro -que ama musicais - “de prostituta...” Essa prostituta chamada Sam Peckinpah, nasceu no de 1926 em Fresno, Califórnia. Descendente de índios paiutes e formado em arte dramática começou a carreira como roteirista em um filme do grande Dom Siegel e em seguida, implementou uma seqüência de realizações para a televisão como o seriado “The Rifleman”. Em 1960, escreveria o roteiro de “Face Oculta”, um faroeste que seria dirigido por Stanley Kubrick, mas acabou se tornando o único filme dirigido por Marlon Brando; diga-se de passagem, um filmaço!
Peckinpah ficou conhecido por desglamurizar o western e subverter, embora sempre de forma respeitosa, os arquétipos criados por John Ford e John Wayne. Nos filmes de Peckinpah não existem heróis, apenas homens desesperados que, assim como uma era, sabem que estão próximos do fim. A cena de abertura do clássico “Meu Ódio será sua Herança”, “fala” por si só. O diretor foi acusado por críticos de cinema sínicos de glamurizar a violência e de ser misógino e moralista; o que os críticos se recusaram a perceber, é que o western de Peckinpah se aproximava da realidade americana e ousava tratar algo tão caro à esta sociedade de forma seca, dura e implacável. Ele não era um mero esteta da violência, na verdade, seu cinema era composto de um realismo despejando, cruel e brutal – nós não estávamos mais nos seguros anos cinqüenta, os EUA estavam acordando para o mundo e Peckinpah era um dos seus guias, revelando o absurdo e a violência do “novo mundo.” Nos seus filmes a vida humana vale tanto quanto o preço de uma bala, seus anti-heróis eram homens solitários vivendo a beira do abismo e quase sempre tinham um destino sangrento. Ambiguidade, crueza, violência e pessimismo são ingredientes sempre presentes em seus filmes.
Selvagem como seus personagens, Peckinpah viveu no limite; rebelde, não fazia concessões aos figurões da indústria cinematográfica e, quando se sentia pressionado, não tinha menor pudor em abandonar o conforto hollywoodiano e se meter no México para filmar sua obra prima, “Tragam-me a cabeça de Alfredo Garcia.” Puto com o tratamento que seu filme anterior recebeu dos produtores, Peckinpah resolver realizar seu novo projeto fora de seu país. Magoado, sem dinheiro e cada vez mais envolvido com álcool e drogas, ele foi se refugiar do outro lado da fronteira ianque, onde pode consumir maiores quantidades de substancias ilícitas e perder o controle de vez, realizando sua obra mais transgressora e bela. Levando consigo o maior anti herói do cinema americano, o ator Worrem Oates, Peckinpah parecia que estava filmando uma obra autobiográfica - é inegável a comparação entre ele e Bennie, personagem de Oates no filme. Ambos são proscritos e desesperados, suas vidas estão aos pedaços. Na fita: desesperança, melancolia, dor e uma sangrenta redenção estão no caminho de Bennie. O filme não fez sucesso e Peckinpah voltou para os EUA e realizou outras obras excelentes, mas “Tragam-me a Cabeça de Alfredo Garcia”, talvez seja seu filme mais pessoal e por isso mesmo é tão pungente.
Peckinpah morreu aos 59 anos em um hospital de Los Angelis, depois de sofrer um ataque cardíaco quando passava ferias com sua esposa, a atriz Begona Palácios no México. Peckinpah voltou lá pela ultima vez... morria um dos maiores rebeldes do cinema norte-americano.

Adeus, Michael.


quinta-feira, 25 de junho de 2009

Ela quer voltar...por mim, tudo bem.



Os melhores filmes de Sidney Lumet (na modesta opinião deste blog, é claro)

Obs: A ordem dos filmes é puramente aleatória.

The Offence, 72
Dog Day Afternoon, 75
The Verdict, 82
Serpico, 73
Network, 76
Equus, 77
Before the devil knows you’re dead, 07
Muder on the Orient Express, 74
Family Business, 89
Running on Empty, 88

Parabéns Sidney Lumet!


Hoje este senhor completa oitenta e cinco anos.

domingo, 21 de junho de 2009

Do que será que Lucas tinha medo?



Todo mundo sabe que George Lucas é um mix de gênio com Jar Jar Binks. É verdade que o cara que concebeu Star Wars e Indiana Jones e dirigiu filmes como “THX 1138” tem sua parcela de genialidade comprovada; mas esse mesmo cara é capaz de idéias cretinas, como acrescentar novos efeitos especiais nos episódios IV, V e VI de Star Wars, assim como “deletar” cenas que considera politicamente incorretas; praticamente cometendo um atentado, um ato de censura contra sua própria obra. Sem falar na tentativa, frustrada, de arruinar a credibilidade do Dr. Jones.





Aproveitando... Um comentário postado no blog Viver e Morrer no Cinema, representa bem essa porção não tão legal de Lucas: após assistir The Soldier of Orange, de Paul Verhoeven, o criador de Darth Vader, pensou em chamá-lo para a direção de “O Retorno de Jedi”, mas logo descartou essa idéia rapidinho (chocado) após assistir ao filme Spetters. Azar o dele, pois Richard Marquand realizou (?) a parte mais fraca, justamente o capitulo final da saga espacial de George Lucas.

Kuro-obi, de Shunichi Nagasaki


Durante a semana onde fui torturado por alguns filmes medíocres, “O Faixa Preta” salvou a pátria.
É importante ressaltar que este texto foi escrito após um dia onde o cérebro deste humilde blogueiro, foi requisitado exaustivamente e massacrado impiedosamente, acarretando em uma piora – momentânea- nas mal traçadas linhas deste blog.
No Japão da década de trinta, os três discípulos do mestre Shibahara aprendem que o Karatê não deve ser usado para atacar. O exercito, então, tentar expulsá-los do dojo e esse ato desencadeia acontecimentos que colocarão os discípulos em campos opostos. Sem o mestre que servia de equilíbrio, as diferentes personalidades dos alunos e as formas distintas de encarar a arte marcial irão se confrontar. O filme retrata as lutas de forma realista e usa o mínimo de violência possível cenas; aliás, a violência está mais nos atos cometidos por algumas personagens do que propriamente nas lutas. O filme ainda conta com uma belíssima fotografia, sobretudo no combate final. Vale apena conferir este excelente filme de artes marciais pacifista.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Star Trek, de J.J. Abrams


Estava um pouco cético com relação à reinvenção proposta por J.J. Abrams para a série Jornada Nas Estrelas. É bem verdade que a cine-série já estava mais que desgastada e se encontrava num beco sem saída e, sobretudo, não contava mais com tanto apoio dos fãs de ficção cientifica. Quando anunciado um novo começo pra Star Trek, não pude evitar que um sonoro e descrente “pra quê?” saísse imediatamente de minha boca. Não sou nenhum trekker, como são chamados os fanáticos fãs da serie, mas gostava dos primeiros filmes do cinema e, sobretudo, da fantástica serie clássica. Ver novas caras interpretando ícones pop como Capitão James Tiberious Kirk ou outra pessoa no lugar do inigualável Leonard Nimoy, não me agradava nem um pouco. E puta que pariu, quando os ianques vão parar com refilmagens! Tudo indicava que eu detestaria o filme. Ai cai do cavalo (se você, meu amigo, for um trekker pare de ler isto agora!) o J.J. Abrams fez o melhor filme de toda a serie! Até a comentada participação de Leonard Nimoy, foi realizada de forma coerente e com muito respeito. Star Trek, além de ser um filmaço,conta com ótimas atuações - o Eric Bana está assustador como o vilão Nero e a tripulação da Interprise está muito bem acomodada em seus trajes, com destaque para o ótimo trabalho de Karl Urban como “Magro”. A grande sacada dos produtores J.J. Abrams e Damon Lindenlof, que confessaram não serem fãs de Star Trek, foi reiniciar a série partindo de um ponto que antecede os acontecimentos do primeiro filme e tratar a tripulação, não como meros coadjuvantes, mas com personagens com relevância para a trama. Nota dez!

domingo, 14 de junho de 2009

Arizona Nunca Mais, de Joel Coen


Ainda é um dos meus filmes preferidos. Recentemente assisti “Arizona Nunca Mais” (já se vão mais de dez sessões) e continua muito bom. Alem de sequências e enquadramentos sensacionais, tem a melhor atuação do quase insuportável Nicolas Cage...o que não é pouca coisa, não.

sábado, 13 de junho de 2009

Dead Snow, de Tommy Wirkola

Pessoas que vão passar um feriado numa remota cabana, enfrentam um pelotão de zumbis-nazistas-canibais. Muita correria, sangue e suspense fazem parte desse filme de terror que agradará os apreciadores do gênero.
Esse cara, muito provavelmente, quando moleque, fazia filminhos caseiros imitando o Evil Dead. Cresceu e com um pouco de grana e criatividade, presta uma “homenagem” ao melhor filme de Sam Raimi. Dead Snow é Evil Dead escarrado e cuspido com uma ou outra invencionice aqui e ali (tem até uma espécie de Bruce Campbell (!)), mas o diretor tem talento pra coisa e consegue equilibrar terror e humor com habilidade. Certa vez li, não sei onde, que o cara que não consegue fazer um filme de terror descente, apela pra comédia; o que, definitivamente, não é o caso de Dead Snow.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Vinyan, de Fabrice Du Welz


Fabrice Du Welz é um realizador belga que despontou para o grande público depois que seu excelente filme “Calvaire” (2004) recebeu elogios de vários de setores, além de alguns prêmios pelo mundo a fora. Seu novo filme, “Vinyan”, segue o mesmo estilo da realização anterior; mesclando drama, horror com imagens que parecem surgidas de um pesadelo. No filme, um casal (Rufus Sewell e Emmanuele Beart) vê a imagem de seu filho desaparecido (durante o tsunami que varreu a costa da Ásia há alguns anos atrás) em uma reportagem e decidem, depois de ser desaconselhado, se embrenhar nas selvas de Burma numa busca que vai levá-los a lugares remotos e perigosos. Quanto mais se aprofundam nas selvas, mais bizarra e delirante a trama se torna, levando seus personagens para além dos limites do real. Ótimo filme de um diretor muito talentoso.

Alguns filmes (que talvez não decepcionem) para o segundo semestre.







sábado, 6 de junho de 2009

Ou não.

Este resumo não está disponível. Clique aqui para ver a postagem.

Pra encerrar o assunto.






















Imagine o som...


Este blog é exclusivamente de cinema, mas não resisti ao encontrar essa capa de disco no blog do Carlos Reichenbach.

Tragam-me a Cabeça de Alfredo Garcia, de Sam Peckinpah

Finalmente pude conferir um dos grandes filmes de Peckinpah que ainda faltava. Pelo que sei, pra variar, nunca lançado em VHS e DVD no Brasil.
Decepcionado com o tratamento dado pelos produtores que mutilaram seu filme anterior, “Pat Garret and Billy the Kid”, Sam Peckinpah viajou para o México para curar suas feridas e realizar sua obra máxima. Embora seja um cineasta de grandes filmes, Tragam-me a Cabeça de Alfredo Garcia talvez seja sua realização mais pessoal e por isso mesmo mais radical. O filme narra a história de um cantor de espelunca (Warrem Oates, o maior anti-herói do cinema nos anos setenta) que em troca de dinheiro, vai até os confins do México para recuperar a tal cabeça e entregá-la a um barão do latifúndio mexicano, cuja filha está grávida de Alfredo Garcia. Peckinpah, fora dos Estados Unidos, realizou sua obra mais melancólica, degradante e bela. O personagem de Werrem Oates é um fracassado que vive de gorjetas e ver a chance de mudar de vida com um milhão de dólares do premio, só que para isso, terá que enfrentar caçadores de recompensa e outros obstáculos que se colocam entre ele e seu objetivo. Tragam-me a Cabeça de Alfredo Garcia é um drama sujo, violento e lírico, uma autêntica obra-prima do mestre Peckinpah que provavelmente nunca poderia ter sido realizada em território ianque; o filme foi massacrado pela critica e injustamente ignorado pelo público... um clássico.

Os Sapatos de Aristeu, de René Guerra

René Guerra extrai lirismo da morte, e trata da sexualidade sem tender para clichês e discursos moralistas

por Luís Gustavo de B. melo

Por vezes o cinema erra a mão ao enfocar minorias marginalizadas. Não é o caso desta produção independente, cujo insight se deu a partir de um sonho (!). Os Sapatos de Aristeu não é apenas um filme sobre homossexuais e preconceito familiar, é antes uma história sobre cumplicidade, perda e redenção. No curta-metragem do diretor e roteirista alagoano Luiz René Guerra, o homossexualismo e o seu eterno conflito com os valores impostos pela sociedade, são tratados com sensibilidade, inteligência e certa dose de ironia.
Além da atmosfera lúgubre – acentuada pela fotografia em preto-e-branco –, o que chama a atenção nos quinze minutos do curta é o silêncio. Quase não há diálogos e parte da construção narrativa se dá a partir dos enquadramentos e da engenhosa sequência de planos, closes e cortes rápidos, que ajudam a compor traços de personalidade das personagens, revelando aos poucos, os valores e a realidade daquelas pessoas.
Nos primeiros segundos do filme, podemos ouvir uma música vinda de um toca-fitas que é abruptamente desligado. Estamos no que parece ser uma casa de shows, onde encontramos o travesti Aristeu, morto, e sendo maquiado por suas colegas no assoalho do palco do estabelecimento. Este é o único momento em que ouvimos música durante todo o filme. Talvez para imprimir um aspecto mais naturalista, Guerra tenha preferido não utilizar trilha sonora.
Após “montar” a travesti, o corpo é levado até a casa da família para ser velado e, a partir do momento em que vemos a irmã do morto à sua espera na porta de casa, percebemos o clima de desestruturação familiar que existia na vida do homossexual. “Minha mãe não pode sofrer mais, eles (os outros travestis) não podem aparecer por aqui. Diga para as pessoas daquele lugar que quem vai ser enterrado é o Aristeu”, disse a irmã para o amigo de Aristeu que o havia trazido.
O filme de René Guerra é conduzido em ritmo fragmentado. Os quadros e movimentos da narrativa vão se sucedendo em cortes e contrapontos, com impressionante fluidez. A sequencia final desvela o quão frágeis e diluídos são os valores que herdamos no que tange ao preconceito e a intransigência. Quando os travestis chegam até a casa onde o corpo está sendo velado, a irmã do morto recusa-se a atender a campanhinha e após uma última explosão de revolta contra o irmão homossexual – que, em suas palavras, as abandonou “para virar isso” – , ouve a mãe lhe revelar que Aristeu foi embora porque ela havia pedido para ele ser quem é longe dela. Quando finalmente resolveram abre a porta para os visitantes, estes calçaram sapatos femininos no falecido. O simbolismo desta cena sintetiza todo o conceito do filme. Por um instante, o abismo que separava aquelas duas realidades tão distintas, deixara de existir. É importante salientar que, ao longo do filme, não há qualquer tipo de julgamento. René Guerra foi muito feliz em sua decisão de contar a história utilizando uma abordagem subjetiva que, acima de tudo, prima pelo bom senso e pela sutileza.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Keoma, de Enzo Catellari


Considerado como o último grande spaghetti western, este melancólico e “apocalíptico” filme de Enzo Castellari, era, na verdade, uma idéia que tanto o diretor quanto seu ator, Franco Nero, tentavam desenvolver a um certo tempo. Devido à agenda lotada de Nero, os planos foram se adiado até chegarmos a 1976, quando finalmente a produção foi realizada. Keoma é, intencionalmente, o ocaso dos faroestes italianos, pois o gênero jê estava a muito desgastado e o cinema italiano rumava para outros caminhos (o que é uma longa história) e o publico aparentemente não se interessava mais pelo gênero outrora tão popular. Franco Nero interpreta um mestiço que retorna a sua cidade após ter lutado na guerra civil americana e encontra o lugar devastado e infestado por uma doença contagiosa. Com uma cenografia que lembra os filmes estilo Mad Max, Keoma é uma fita que tem um estranho clima chegando a alguns momentos a nos apresentar imagens quase surrealistas. Embora Keoma esteja cheio de referencias aos westerns, tanto da América do Norte quanto da própria Itália, é de Sam Peckinph e de Corbucci que o filme sofre mais “influência”, pois o diretor Castellari, embora seja um ótimo realizador, não é muito conhecido por sua originalidade.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Choke, de Clark Gregg


Nova adaptação da obra de Chuk Palahniuk fala de carência e do uso do sexo, e outros meios, para suprir esse vazio.
Não é tão bom quanto “Clube da Luta”, mas certamente está acima da média das produções rotineiras. Na verdade, gostaria que Choke fosse um pouco mais ousado, pois o tema é de alta combustão. O filme narra às desventuras de um viciado em sexo, Victor Mancine (Sam Rockwell) que freqüenta uma espécie AA para se livrar de suas compulsões. Victor, que trabalha numa encenação permanente sobre o período da independência dos EUA, tem uma bizarra e perigosa forma de atrair a atenção e ganhar algum dinheiro de estranhos; sua mãe (Anjelica Huston) sofre de demência e “esconde” um segredo com relação à origem de seu filho, que começa a achar que pode obrar milagres...