terça-feira, 6 de abril de 2010

Novo filme do mestre Romero.

Geoge A. Romero


Assisti ontem (em uma cópia safada com um som horrível e fora de sincronia) a nova realização do mestre Scorsese; e devo admitir que o filme superou minhas expectativas. Semana que vem comentarei “A Ilha do Medo” (ô nomezinho infeliz, esse!)
Estou passando por um período de escassez do gênero que os de puros de coração detestam, o horror. Estes dias consegui garimpar três prováveis momentos de diversão: A nova (e malhada) obra do mestre Romero, uma indicação do amigo Jackson e o vampirismo filosófico do Chan-wook Park. Semana que vem pelo menos um dos três será comentado.

that's all folks!

Ágora, de Alejandro Amenábar


O novo filme de Amenábar enfoca o momento quando o cristianismo se afirma como uma religião capaz de disputar fiéis com qualquer outra. O que é interessante nessa historia é a forma como o diretor aborda esse momento. Levando-nos até o Egito ocupado por Roma, Amenábar usa uma espécie de triangulo amoroso entre a filósofa Hipatia, um aluno seu e um escravo; os dois homens, tanto o aluno como o escravo terão que disputá-la com a filosofia, pois a filósofa está mais interessada em questões que vão além, muito além do campo amoroso não dando muita importância para os sentimentos dos coitados. Enquanto isso, o cristianismo, que era uma religião que crescia a passos largos entre os escravos e os oprimidos da época, prepara seu plano para conquistar sua hegemonia. Amenábar e Mateo Gil, roteiristas, mostram justamente essa disputa pelo poder religioso e, por que não, político desse momento histórico.
Os dois homens, cada um por seu motivo particular, se convertem a religião cristã. As praticas que envolvem essa disputa de poder, tanto por parte dos cristãos quanto dos judeus, não são nada bonitas de se ver; armadilhas, traições e mortes dão o tom de como seria a luta pela hegemonia religiosa através das eras que se seguiriam.
Talvez um pouco exagerando no didatismo, o diretor coloca Hipatia como a força racional que, diante de um turbilhão caótico de fanatismo e fé sega, tenta levar um pouco de luz aos homens que usam o poder da religião para resolver suas querelas políticas e históricas. É óbvio que quando se junta ódio, revolta, ganância, medo e religião a razão se torna um obstáculo e tem que ser eliminado a todo custo. Quando os cristãos à custa de muito sangue tomam o poder político/religioso, percebem que seu próximo adversário será a razão personificada na figura de Hipatia; investem contra ela de uma maneira que seria adotada pela Igreja Católica nos próximos séculos: a acusação contra a mulher de praticas anticristãs ou bruxaria. Seria o inicio de séculos de perseguição, opressão e violência que a mulher sofreria sob o poder da Igreja Católica.



Na terra do rebolation onde as pessoas estão mais interessadas em questões ecológicas espaciais e romances que são um atentado contra os diabéticos, uma fita que exalta a luta da razão contra a religião, no caso a cristã, é um movimento arriscado, sobretudo em um país católico como o nosso. É bem verdade que a Igreja Católica enfrenta acusações tremendamente sérias e passa, mais uma vez na história, por uma crise moral onde seus dogmas e sua conduta diante das acusações são questionados. Com efeito, não podemos acusar Amenábar de oportunismo, mas podemos seguramente afirmar que ele coloca um pouco mais de lenha na fogueira... E nela não há nenhuma mulher a ser queimada. Com certeza não é um filme que Bento XVI irá gostar.