sábado, 7 de novembro de 2009

FUGA DE NOVA YORK, de John Carpenter



Para abrir estes comentários escolhi um dos melhores filmes da safra oitentista: Fuga de Nova York. Clássico absoluto da saudosa Sessão das Dez no SBT, que era um inferno para molecada que, assim como eu, tinha que acordar cedo no dia seguinte para cumprir seus compromissos escolares, pois todo mundo sabe que, certamente, a pontualidade não é uma das virtudes de Silvo Santos; Fuga de Nova York foi exibido à exaustão nas noites dominicais. Quando o clássico de John Carpenter era anunciado na programação da TV do homem do Baú, lá estava eu em prontidão em plena noite de domingo a espera de mais uma reprise de Cobra Plissken. Passando tanto tempo, revi esta semana, depois de alguns anos, a película de 1981. Fuga de Nova York é uma espécie de faroeste pós-apocalíptico. Para quem não sabe (será que tal ser existe?), em um futuro próximo a ilha de Manhattan se transformou em uma prisão de segurança máxima cercada por um muro de concreto de 15 metros de altura. Do lado de fora a policia está de prontidão para impedir qualquer fuga – logo no inicio da fita vemos que tal aventura será punida com a morte. Um prisioneiro de alta periculosidade está chegando à prisão no momento em que um grupo terrorista toma O Força Aérea Um e bradando contra o imperialismo ianque, joga o avião presidencial contra um prédio da cidade de Nova York. O único sobrevivente do atentado é o presidente dos EUA, vivido pelo grande Donald Pleasence em mais uma colaboração com Carpenter. Quando se descobre que o presidente, único sobrevivente fora capturado por um grupo de bandidos e qualquer ação será retalhada com a execução sumaria do Chefe de Estado americano, a solução é recrutar o homem mais perigoso dos Estados Unidos: Cobra Plissken (Kurt Russell). Ironicamente, Plissken passa de prisioneiro a única esperança de resgate do presidente. Sob o comando do chefão Halk (Lee Van Cleef, em mais uma referencia ao faroeste) Plissken é enviado para executar a missão. No meio da cidade prisão, ele se deparará com hordas de selvagens, canibais, assassinos e toda espécie de meliante. Este caos é “comando” pelo ultra-perigoso Duque de Nova York, vivido por Isaac “Shaft” Hayes. Com ajuda do Taxista Cab (Ernest Borgnine) e do homem mais inteligente da prisão, Brain (Harry Dean Stanton), Cobra Plissken, executará a missão mais perigosa e irônica de sua vida. O filme gerou dezenas de imitações; algumas até bem divertidas, outras ruins de doer. Os italianos, notórios plagiadores, deram sua contribuição com suas contrafações da película de Carpenter, mas nenhuma chegou a sua altura.
Para alguns, Fuga de Nova York não passa de uma divertida aventura B com uma espécie de Rambo anarquista. Mas para aqueles que acompanham o trabalho de John Carpenter, saberão identificar elementos de critica social inseridos no roteiro. Como um bom contrabandista, Carpenter criticar a política prisional americana através de uma “inocente” fita de ação. Com as prisões abarrotadas e a população carcerária em sua maioria formada por negros, hispânicos, pobres e excluídos; vitimas de uma sociedade que manda para traz das grades e longe de seus olhos, o que ela, na sua arrogante e preconceituosa visão de mundo, rejeita. Carpenter realizou uma diatribe contra uma política fascista do governo Norte Americano em usar a prisão como deposito de seres humanos, pois além de infratores comuns, as prisões americanas sevem para punir e tirar de circulação aqueles que se rebelaram contra o racismo da sociedade estadunidense. Em seu filme, John Carpenter abordou a problemática da situação carcerária em seu pais, mas sua abordagem pode ser perfeitamente inserida em nosso contexto, onde a violência sem limites e o Estado se omitindo cada vez mais na sua função de preveni-la – pois a prevenção é mais eficaz, mas também mais cara – opta por construir prisões onde abrigará os frutos de seu estrutural descaso com os mais pobres. Quem sabe, em um futuro não muito distante, veremos Fuga de São Paulo, Fuga de Porto Alegre ou até... Fuga de Maceió?