terça-feira, 6 de abril de 2010

Ágora, de Alejandro Amenábar


O novo filme de Amenábar enfoca o momento quando o cristianismo se afirma como uma religião capaz de disputar fiéis com qualquer outra. O que é interessante nessa historia é a forma como o diretor aborda esse momento. Levando-nos até o Egito ocupado por Roma, Amenábar usa uma espécie de triangulo amoroso entre a filósofa Hipatia, um aluno seu e um escravo; os dois homens, tanto o aluno como o escravo terão que disputá-la com a filosofia, pois a filósofa está mais interessada em questões que vão além, muito além do campo amoroso não dando muita importância para os sentimentos dos coitados. Enquanto isso, o cristianismo, que era uma religião que crescia a passos largos entre os escravos e os oprimidos da época, prepara seu plano para conquistar sua hegemonia. Amenábar e Mateo Gil, roteiristas, mostram justamente essa disputa pelo poder religioso e, por que não, político desse momento histórico.
Os dois homens, cada um por seu motivo particular, se convertem a religião cristã. As praticas que envolvem essa disputa de poder, tanto por parte dos cristãos quanto dos judeus, não são nada bonitas de se ver; armadilhas, traições e mortes dão o tom de como seria a luta pela hegemonia religiosa através das eras que se seguiriam.
Talvez um pouco exagerando no didatismo, o diretor coloca Hipatia como a força racional que, diante de um turbilhão caótico de fanatismo e fé sega, tenta levar um pouco de luz aos homens que usam o poder da religião para resolver suas querelas políticas e históricas. É óbvio que quando se junta ódio, revolta, ganância, medo e religião a razão se torna um obstáculo e tem que ser eliminado a todo custo. Quando os cristãos à custa de muito sangue tomam o poder político/religioso, percebem que seu próximo adversário será a razão personificada na figura de Hipatia; investem contra ela de uma maneira que seria adotada pela Igreja Católica nos próximos séculos: a acusação contra a mulher de praticas anticristãs ou bruxaria. Seria o inicio de séculos de perseguição, opressão e violência que a mulher sofreria sob o poder da Igreja Católica.



Na terra do rebolation onde as pessoas estão mais interessadas em questões ecológicas espaciais e romances que são um atentado contra os diabéticos, uma fita que exalta a luta da razão contra a religião, no caso a cristã, é um movimento arriscado, sobretudo em um país católico como o nosso. É bem verdade que a Igreja Católica enfrenta acusações tremendamente sérias e passa, mais uma vez na história, por uma crise moral onde seus dogmas e sua conduta diante das acusações são questionados. Com efeito, não podemos acusar Amenábar de oportunismo, mas podemos seguramente afirmar que ele coloca um pouco mais de lenha na fogueira... E nela não há nenhuma mulher a ser queimada. Com certeza não é um filme que Bento XVI irá gostar.