quarta-feira, 2 de setembro de 2009

SORCERER, de Willian Friedkin


O ano é 1973 quando um filme de horror chocou o mundo todo com sua abordagem realista sobre uma menininha possuída por uma entidade diabólica: “O Exorcista” se tornou o maior filme de terror de todos os tempos e um dos melhores filmes já realizados, alçando seu jovem, arrogante, genioso e extremamente talentoso diretor ao patamar dos grandes realizadores surgidos na espetacular safra de sessenta/setenta nos Estados Unidos. Eram novos talentos que viam para renovar o carcomido cinema ianque e para os engravatados de Hollywood isso significava retorno lucrativo para os cofres dos grandes estúdios, tornando esses jovens idealistas viáveis, ou seja, lucro certo. Contudo, o sucesso dava poder e esse poder se configurava em liberdade criativa para tocar projetos ambiciosos e pessoais. Foi assim com Coppola em “Apocalypse Now” e Cimino em “O Portal do Paraíso”, entre outros. Os estúdios deram a chave do cofre para esses caras e a criatividade ralou solta, sem rédeas; mas tarde, cabeças rolaram. Friedkin não fugiu a regra e, guardada as devidas proporções, Sorcerer, de 77 foi seu “Apocalypse Now”.
Segundo contam, Willian Friedkin queria Steve McQueem para o papel principal, mas McQueem recusou por está envolvido em outro projeto. O papel acabou ficando com Roy Scheider, que retribuiu com o melhor desempenho de sua carreira. Com varias indicações no currículo e uma estatueta sobre a lareira, Friedkin queria (re)filmar um clássico do cinema francês: “O Salário do Medo”, de Henri-Georges Clouzot. Pegou dinheiro da Paramont e da Universal e se mandou com Roy Scheider para a America Central e lá realizou uma das obras mais impressionantes sobre desespero e ambição humana que já vi na vida. Com perdão dos cinéfilos, mas está no top de “O Tesouro de Sierra Madre”, do mestre John Huston.
Na trama, quatro homens, de diferentes cantos do mundo, comentem atos questionáveis e por causa deles, são forçados a buscar refugio em um buraco do terceiro mundo. Encontramos esses proscritos vivendo em uma favela próxima a um campo de exploração de petróleo. Eles não se conhecem, mas acabam se juntando ao aceitar uma missão suicida: transportar de caminhão através de uma floresta um carregamento de dinamite encharcada de nitroglicerina para um campo de exploração em chamas. Embora seja uma missão mortal, os fugitivos têm que disputá-la com os outros moradores da região - o requinte de crueldade dessa cena é pau! Friedkin expõe a dura situação da America Latina e a cruel exploração dos trabalhadores que se submetem a qualquer tipo de serviço para sobreviver, além de denunciar o roubo dos recursos naturais do terceiro mundo pelos colonizadores.
Com um estilo semi-documental, ao captar imagens duras, o diretor leva o espectador a um pesadelo nas profundezas da selva e da alma de cada personagem: a sequencia em que Roy Scheider enlouquece no meio da floresta é foda! E isso não é nada comparado ao que ainda estaria por vir. O diretor realizou seu “No Coração das Trevas”. Com sua visão intransigente, cometeu um filme árido e cruel, abordando questões sociais e existenciais através de imagens de grande impacto que ficarão na minha memória por muito tempo. Sorcerer fracassou nas bilheterias e foi ignorado pela crítica; Friedkin pagou caro, e pensa que ele aprendeu? Logo viria com Cruising aka “Parceiros da Noite”, mas isso já é uma outra história...