sábado, 6 de fevereiro de 2010

Johnny Mad Dog, de Jean-Stéphane Sauvaire


Com o filme ainda queimando em minha mente, começo este texto sobre um dos mais brutais dramas que assisti recentemente.
Quando me deparo com dramas que enfocam situações violentas envolvendo crianças e, principalmente, acontecimentos no terceiro mundo, vem logo à cabeça a famosa "praga" de Glauber Rocha: “A estética da fome”, como um carimbo maldito estampado no filme. E bem verdade que algumas realizações merecem essa marca, principalmente quando usam temas sociais - digam-se desgraças alheias- para puro entretenimento, a exemplo de “Diamante de Sangue”, de Edward Zwick. No caso de “Johnny Mad Dog”, a coisa é bem diferente. Teria que ser um filho da mãe patologicamente sádico para encontrar alguma diversão nesta realização produzida pelo cineasta/ator Mathieu Kassovitz. O filme tem um realismo impressionante que chega a incomodar, tornando uma tarefa dolorosa acompanhar a historia de garotos liberianos, transformados em maquinas de matar que servem, literalmente, de bucha de canhão nas mãos de calhordas que lutam pelo poder na Libéria.
Não sou nenhum especialista na situação da Libéria ou outro pais africano, mas é evidente que lideres corruptos manipulados por algum país do primeiro mundo ou uma corporação qualquer, utilizam crianças como peões num dos conflitos mais covardes da era moderna; provando que a capacidade de evolução da crueldade humana é ilimitada, embora esteja ciente de que não é de hoje que crianças são usadas em conflitos bélicos; a Igreja Católica sabe muito bem disso.


Contudo, abordar este tema tão complicado é um campo minado e precisa ter coragem e, sobretudo, habilidade na condução de uma fita como esta, tornando-se quase inevitável não evocar o neoclássico de Fernando Meireles, “Cidade de Deus”, já que as histórias têm a miséria e a crueldade como pontos que se assemelham. Embora o contexto no filme francês seja outro, os dois nao transformam os dramas em um espetáculo constrangedor.


Em “Jonny Mad Dog”, acompanhamos uma milícia formada por crianças e adolescentes na tomada de pontos chave durante uma rebelião no já citado pais africano. “Os garotos seguem cegamente as ordens de militares; saem matando, estuprando e cometendo todos os tipos de atrocidades numa espécie de ‘‘limpeza étnica” ao molde dos Bálcãs. A diferença aqui é que em vez de militares a praticar tais barbaridade, temo crianças que sofrem lavagem cerebral, usam drogas (inclusive cocaína) como forma de estímulo para o combate, aumentando a confusão mental que os vai afundando cada vez mais num mundo sinistramente mágico.