sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

The Road, de John Hillcoat



Nunca li uma linha se quer escrita por Cormac McCarthy, escritor recluso e que raramente dar entrevistas. Três de seus romances já foram adaptados para o cinema e um quarto livro vai virar filme pelo diretor Ridley Scott. Se “Onde os Fracos Não Tem Vez” – o título em português é contraditório ao western moderno -fez com que eu prestasse mais atenção neste escritor; “A Estrada”, publicado em 2007, é responsável pela minha admiração.

“Eu nunca tive nenhuma dúvida sobre as minhas habilidades, eu sabia que podia escrever, eu só precisava descobrir como comer enquanto fazia isso.”
(Cormac McCathy)

Entretanto, o principal motivo que me deixou ansioso para conferir “A Estrada” não foi Cormac McCarthy, mas o diretor John Hillcoat. Meu interesse por esse realizador australiano começou ao fim da sessão de “A Proposta”, quando eu, atônito com o que tinha visto, mal podia levantar da cadeira. Aquela mistura de Sam Peckinpah, John Huston e sei lá mais o quê, me deixara tão impressionado que perdi as contas de quantas vezes já o assisti. Evidente que “A Proposta” não atinge a perfeição de um “Cidadão Kane” ou “Casablanca”, mas ninguém é demasiadamente sínico para eleger somente clássicos como seus filmes preferidos. Ou é?
Certamente, alguém que já se aventurou por esse blog sabe muito bem que esperei ansiosamente pela “A Estrada”. Na verdade, essa espera começou quando no inicio de 2009 me deparei com informações a respeito do roteiro que abordava o apocalipse, canibalismo e um pai errante com seu filho num mundo hostil e, principalmente, tinha o diretor Hillcoat no seu comando.
Em minha opinião, “A Estrada” já faz parte dos grandes filmes que têm o fim do mundo como tema; e sua abordagem psicológica é, seguramente, seu diferencial, centrando a trama no dilema do pai que tenta criar o filho dentro dos modelos civilizados diante de um mundo onde a barbárie impera. Em quase todo o filme temos apenas os dois atores em cena (Viggo Mortensen e Kodi Smit-McPhee). Entretanto, esse isolamento é quebrado em alguns momentos com a inserção de personagens que têm fundamental importância na dinâmica da relação dos dois e, sobretudo, na formação da personalidade do moleque. O que poderia ser uma armadilha, ter apenas dois atores em praticamente todo o filme, tornou-se um trunfo devido ao excelente trabalho dos dois (Já pensou se Will Smith pega esse papel junto com o mala de seu filho?). A atuação de Viggo Mortensen é excepcional e o pivete não fica atrás, provando que foi o ator certo para o personagem que poderia, com uma escolha equivocada, ser um pé no saco dos espectadores.


Na história, A Terra é devastada por terremotos e a humanidade está quase extinta. Num mundo onde não existem mais animais, as arvores estão caindo mortas e não há mais alimentos, os humanos que ainda resistem vagam errantes por um mundo cinza e devastado a procura de comida. Alguns se juntaram em bandos e adotaram o canibalismo como pratica, outros, que ainda tentam manterem-se civilizados, se alimentando de sobras e migalhas escondidas nos entulhos. Nesse cenário, um pai e seu filho vivem como nômades a procura de comida, se escondendo e fugindo das estradas. O filme ainda conta com um visual extremamente eficiente (a fotografia é monocromática), tratado de forma natural pelo diretor que fez a opção de fugir do espetáculo e contar um drama duro e comovente de forma discreta, deixando para o ótimo roteiro e os atores, toda a atenção da platéia. É um filmaço, como se fazia num passado não muito distante.